sexta-feira, 9 de abril de 2010

Arte Indígena Brasileira


Esta imagem é de um cartão postal dos anos 70 muito conhecido, retratando um índio Yudjá flechando, etnia que na época ficou conhecida por Juruna, em virtude de um cacique dessa etnia (Cacique Juruna) ter se tornado figura pública notória, por ter ingressado na política reivindicando os direitos dos povos indígenas.
Nessa época, meu pai trabalhou por um tempo como Engenheiro Agrônomo no Projeto Rondon e foi mandado à Amazônia para pesquisas, de onde enviou este postal para minha mãe, na época perguntando notícias sobre minha irmã que estava com um ano e meu irmão com 3. Eu nem era nascido. 
Isso foi em 1974.
Este postal foi o primeiro de uma coleção que mantenho e atualizo, que já conta com  mais de cem postais de índios brasileiros.
Nesta mesma viagem,  meu pai comprou para minha irmã uma boneca indígena que anos mais tarde utilizei em uma de minhas Colagens intitulada "Xingu".


Na colagem acima além da boneca há um protetor peniano e um cartão postal de uma índia Suruí, com tembetá de resina na perfuração do lábio, colares de tucum e dentes de macaco, protegida pela pintura corporal da onça; abaixo outros 2 da minha coleção: um postal de uma índia Yawalapiti e outro de uma índia Marubo, do rio Ituí, índios famosos por suas delicadas cerâmicas e pela beleza de seu povo. O adorno facial feminino transpassando seu septo nasal é típico deste povo.


Tenho verdadeiro fascínio pela Cultura Indígena Brasileira, além de imensa paixão pela Arte dos povos que habitam nossa terra.
Conheço alguns por pesquisas que realizo há mais de 30 anos, acredito, visto que desde que comecei a me entender por gente já gostava de me pintar e me vestir como um índio brasileiro. 
Nos primeiros Carnavais que pulei, em salões de clubes que frequentei quando pequeno, 
sempre me fantasiava de índio, cheio de pinturas que meus pais faziam em mim além da saia de palha, cocar, braçadeiras, tornozeleiras, maracá e até um arco e flecha que ganhei aos 5 anos.


Em casa, na TV, livros e revistas sempre convivi com imagens de tribos de diversas etnias.
Aos poucos na escola, nos cursos de Arte, Conservatório, Biblioteca, todos os lugares que frequentei, procurei ler e conhecer melhor cada um dos povos, diferenciá-los, reverenciá-los e sempre que posso divulgo algo sobre esta rica cultura tão próxima e tão distante de nós, os brasileiros.


Admiro sobretudo sua força e determinação no desafio constante da sobrevivência e resistência à Morte, tão próxima dos índios, pois foram intensamente massacrados em todo o país durante todos os 500 anos de constante enfrentamento com povos não índios que se instalaram no Brasil, especialmente os povos brancos, 
após a invasão portuguesa, patrocinada pela Igreja Católica, 
impulsionada por interesses claramente econômicos.

29/08/2007
Especial Xingu: índios Kuikuro preservam tradições com o uso da tecnologia.
Videoreportagem: Rodrigo Leme Bernadás


A Dor é algo constantemente vivenciado pelos indivíduos indígenas, principalmente nos rituais de passagem realizados em vários momentos da vida, sobretudo do homem.
E a dor é enfrentada, não dissimulada ou anulada por anestésicos (muito comum em sociedades civilizadas); ela é motivo de superação e deve ser encarada de frente, suportada e vencida, 
para que o índio renasça em uma nova fase, 
mais forte e apto para os novos desafios que irá enfrentar.


Muitos desses desafios incluem suportar picadas de formigas presas a luvas como fazem os Sateré Mawé no Ritual da Tucandeira (ver vídeo), ou abelhas apanhadas diretamente da colméia na copa das árvores; ou ainda perfurar o corpo, nas orelhas, lábios ou nariz (únicas partes do corpo perfuradas por índios brasileiros), ou tatuar a face, os braços ou alguma outra parte, como forma de eternizar este ato de bravura e superação do medo da Dor.

As 6 próximas fotos são de Breno Menini
Tenho uma coleção de peças indígenas - algumas que até utilizo no meu dia a dia - como cuias, colheres de pau, estojo de urucum para pintar a pele, cerâmicas, colares, cintos, pulseiras, braçadeiras, tornozeleiras, brincos, alargadores, perfuradores, escarificadores, esteiras, zarabatanas, cocares, saias, bolsas, flautas, bordunas, apitos, máscaras, cachimbos, bancos e animais de cerâmica, madeira e cipó.


Frequento há muitos anos uma feira de peças indígenas realizada  em Campinas no mês de abril, que sempre traz uma exposição destacando alguma etnia, vídeos educativos, além de eventualmente convidar algum grupo indígena para participar, realizando pinturas com jenipapo nos visitantes.


No Parque Ecológico de Campinas conheci os Rikbaktsa nessas feiras, em uma grande exposição sobre seus costumes, ocasião pela qual adquiri algumas peças dessa etnia como colares, um par de alargadores de lóbulos, imensos e super leves, feitos de madeira "caixeta", além de um par de narigueiras de longas penas de arara vermelha, para o septo nasal.


Conheci tambem Anapuatã, índio Mehinaku super simpático e conversador, de baixa estatura e imensa sabedoria e experiência de vida, dentro e fora do Parque do Xingu, onde vive com seu povo. Sempre encontrava com ele na Ameríndia, loja do Edson Gomes em Campinas, onde me abasteço de peças e de conhecimento sobre a Arte Indígena Brasileira, tema único da loja que se especializou na busca minuciosa e criteriosa de todas as peças, muitas colhidas nas próprias aldeias por todo o Brasil, visitadas por Edson, que foi quem muito me ensinou sobre a rica cultura brasileira, sobretudo a vertente de origem indígena.
Outra pessoa cujo trabalho me influenciou muito é Regina Muller, professora de Dança da UNICAMP, pesquisadora há muitos anos sobre a Tribo Asuriní (ver vídeo), organizadora de um extenso material de pesquisa a cerca deste povo que já trouxe a Campinas, onde os conheci por ocasião de lançamento do DVD organizado por Regina Muller, que foi também Diretora do Instituto de Artes quando eu era estudante de Artes Plásticas.
Admiro sua personalidade e originalidade, seu trabalho e sua cultura.
Conheci Regina casualmente na fila do visto de entrada nos EUA, no Consulado Americano em São Paulo, em 1993. Memorável, cada encontro com ela.



Desde então, já tive contato com índios Guarani, Xavante, Mehinaku, Pataxó, Kaigang, Asurini, Xukuru-Kariri e Kamaiurá.
 Em janeiro deste ano, em viagem à Bahia para performar no Festival UNIVERSO PARALELLO 10, tive o imenso prazer de conhecer um grupo de índios Kamaiurá que apresentou algumas de suas danças rituais na abertura e na virada do ano.


















Dia 03 de janeiro de 2010 casei-me com minha companheira Sara Panamby , durante o evento, e fomos até os Kamaiurá fazer uma pintura corporal de casamento em nossos corpos; pintaram nossas costas com o jenipapo que durou por vários dias: eu com pintura de guerreiro, de jibóia, e Sara com pintura de borboleta, no centro das costas, Panamby.


Fomos muito bem recebidos por Inunká, que trazia os Kamaiurá, nos acolhendo com um delicioso jantar, café, bom papo, e enquanto comíamos fartamente, o cacique Kotok, seu filho Allan e outros índios nos presenteavam com cintos, colares e outros adornos feitos por eles; a filha de Kotok tambem presenteou Sara  com colares.
Trocamos alguns presentes, nós e Rafael Rosa que estava conosco, nosso padrinho de casamento. Compramos algumas peças deles, duas máscaras que trouxe para meu acervo e muitas sensações de acolhimento, igualdade, transparência e semelhança no modo de viver a vida em comunidade.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Maravilhoso blog, muito interessante e bonito!
    A arte indígena é uma riqueza que deve ser mostrada e preservada. A sua arte também é genial Felipe.
    Que bom encontrar blogs como o seu, muito lindo,
    um abraço, Ana Luz

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